quarta-feira, novembro 24, 2004

O maior símbolo de Portugal

Sobretudo no universo da «bola» é entendimento comum que o maior símbolo nacional é o Eusébio, ou o Figo, ou o Benfica, ou o Porto, conforme as inclinações clubísticas de cada um.
Para outros, o maior simbolo nacional é a Amália.
Para outros, ainda, será o vinho do Porto.

Eu acho que nenhum destes cumpre amplamente as características de inequivocamente «lincar» com o nome de Portugal e que este nome, tenha por conseguinte, algum quadro de referências associado. Definitivamente, nenhum destes proto-símbolos tem uma escala mundial.

Toda esta conversa vem a propósito do novo desígnio nacional eleito pelo Ministro Arnault que é o Oceano. Quer o ministro, que de futuro, Portugal passe a ser automaticamente identificado com o Mar e este passe a fazer parte integrante da nossa identidade nacional.
A tarefa não é facil e não será atingida através de meia dúzia de campanhas do ICEP com o mar como tema de fundo. Não só o investimento nesta campanha é insignificante para construir qualquer percepção relevante, como a transformação pretendida não se faz por decreto ou ideia luminosa.
A solução é bem mais dispendiosa e envolve um planeamento estratégico que verdadeiramente não está ao nosso alcance. Este novo desiderato deveria condicionar o plano de desenvolvimento de investimento público em infra-estruturas, educação, cultura, desporto, economia de pescas, investigação científica, diplomacia, ecologia, entre tantos outros, que obrigaria a uma verdadeira revolução social e de costumes políticos.

Dado que o nosso País é Portugal e não o Canadá, esta empreitada está condenada a desaparecer assim que surgir uma nova comissão estratégica com uma ideia brilhante (sei lá, do golfe, ou dos linces da malcáta, ou de outra coisa qualquer).
A associação/apropriação a um símbolo normalmente é natural. As vezes não se explica, acontece (ou então é incorporado pela indústria cinematográfica americana e aí é meio caminho andado).
Apenas uma reflexão para explicar melhor:
Austria: Valsa, Mozart
Noruega: Nobel
Suécia: As louras, Volvo
Cuba: Fidel, Charutos
Escócia: Kilt, Whisky, Gaita de Foles
Holanda: Red light, Drogas leves,
Bélgica: Chocolates
Finlândia: Nokia, Design
Com excepção desta última, onde desde os anos 50 se faz uma opção clara de incremento ao design e telecomunicações, todos os outros são fruto de uma casualidade qualquer, ou de cumprirem uma função tão diferenciadora da norma que as tornam únicas e relevantes.
Concluíndo: Sendo o Mar uma excelente ideia não me parece realizável. Seria mais fácil agarrar em algo de único e irreproduzível (ou pelo menos criar essa percepção de raridade).

Por exemplo, o Vinho do Porto. Já existe. É nosso. Tem um bom nome que remete logo para Portugal. Pode, como o Mar, rebocar outras indústrias e tem mercado.
Não tenho nada a ver com isto, mas acho que seria mais fácil.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Boa análise. Bem fundamentada e realista. Vários outros países possuem conotações de imagem com o Mar, com o Oceano. Bem... Se fosse o Oceano do Sporting, a coisa seria já mais ponderável. O Vinho do Porto é um bom alicerce. Mas há outros, no plano da simbologia potenciável: América do Sul na Europa; Desenrascanço versus Planeamento; Uma Hora de Atraso é Pontualidade; Estratégia é Assegurar as Luvas...

A sério: a inconstância dos governantes (e dos gestores) na prossecução de planos que só são exequíveis no longo prazo, como é salientado no Post, é o maior inimigo da consolidação de uma imagem associada a um símbolo.

8:00 da tarde  
Blogger LCV said...

É claro que existem outras coisa só nossas e que constituem a nossa identidade (tais como os citados exemplos das luvas, atrasos, e espírito de desenrascanço versus planeamento). O problema é a materialização desta ideia em algo de pálpavel. O Brasil também este problema. Também reune essa características que por certo foram deixadas por nós mas que são pouco palpáveis.
Assim, optaram por eleger uma que é, pelo menos, apalpável: a Bunda.

11:08 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bela ideia! Uma Bunda apalvável.

Para os takes foto/vídeo, atrevo-me a sugerir a da Odete Santos. Deve dar uma grande imagem, isto é, caber num poster sem necessidade de ampliação, o que melhora a qualidade de reprodução. Mas, melhor do que as questões gráficas, e ideologias à parte, aparenta ser abundantemente divertida e coerente.

Já imagino um slogan possível: "Com a bunda da Odete, Portugal no jet-set".

3:06 da tarde  

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